A busca da Dior por um rosto sem gravidade

Colagem: Liria Carneiro (She Rocks)

Colagem: Liria Carneiro (She Rocks)

Texto: Roberta Graham

 

“Por que a maçã sempre descende ao chão de maneira perpendicular?”

Foi com a intenção de responder à esta pergunta que Sir Isaac Newton esbarrou com a lei da gravidade, no século XVII. Desde então, os saltos da ciência tornaram o mundo que vivemos totalmente incompreensível para os antigos e, muitas vezes, para nós mesmos. Sabemos hoje que existem quatro forças regendo o universo e a interação de todos os seus elementos: as micro e macro nucleares, o eletromagnetismo e a gravidade. Dentre elas, a última pode ser considerada a mais misteriosa. Apesar de conhecermos suas leis na manutenção de planetas e galáxias, ainda desconhecemos sua integração com os demais princípios.

Desconhecemos também o efeito que a gravidade pode ter em uma escala micro, como ela pode afetar nosso cotidiano e não apenas a órbita das estrelas. A Dior, que realiza extensivas pesquisas científicas na área de cosméticos há 40 anos, chegou à conclusão de que esta mesma gravidade que derrubou a maçã é a responsável por derrubar também a nossa auto estima. Os cientistas da empresa realizaram um estudo em que descobriram que a percepção da idade tem mais relação com os efeitos da gravidade do que com os tempo. Afinal, o tempo é relativo mas a gravidade é uma constante.

A neurociência descobriu que nosso cérebro percebe as feições através de um processo inconsciente de avaliação e daí tiramos conclusões a respeito da idade, atratividade e do estado emocional dos demais. Assim, os sinais de envelhecimento causados pela gravidade são os primeiros a serem percebidos e alteram a forma com que reagimos ao outro. Aquela sensação de afeição ou antipatia que sentimos por quem acabamos de conhecer é, na verdade, um processo científico.

Os cientistas da Dior, visando combater tais efeitos, criaram O Capture Totale. O produto foi desenvolvido com base em 15 anos de pesquisas com células tronco, o que os levou a descobrir as SKP, Células Precursoras da Pele, fundamentais na coesão e firmeza cutânea. O neurocientista Dr. Arnaud Aubert é preciso quando diz que “a perda da resistência da pele influencia parte dos sinais visuais que são processados pelo cérebro em forma automática e intuitiva, sobre a qual se baseia a comunicação não-verbal.” Visto que morar na lua para combater os efeitos da gravidade ainda não é uma possibilidade, o que nos resta é correr atrás do prejuízo.

 

Posted on May 11, 2016 .

MoMa celebra o futurismo Dada

Texto: Roberta Graham

Estamos nos acostumando a pensar no século XXI como um momento de pluralidade. Hoje, ser apenas um não é mais necessário e muitas vezes nem mesmo desejável em nossa sociedade.  Agora é o momento de sermos muitos e enxergamos o espírito do nosso tempo como o eco da modernidade, compreendendo nossos papéis quase que como desbravadores das possibilidades proibidas de vida. Acontece que como sempre, as idéias que colhemos hoje são frutos de sementes plantadas no passado e podemos remeter a virada cultural que começa a se delinear nesse princípio de século com os manifestos defendidos pelos integrantes do movimento Dada, surgido na Suíça após a Primeira Guerra Mundial. 

O MoMa, em Nova York, vai receber a partir de junho a exposição “Dadaglobe Reconstructed”, um antigo plano de Tristan Tzara que visava reunir os trabalhos de artistas como Man Ray, Sophie Tauber-Arp, Francis Picabia e Marcel Duchamps. A mostra e o livro que a acompanha deveriam ter sido lançados em 1921 mas o projeto nunca foi levado adiante devido às dificuldades financeiras. O movimento Dada foi o primeiro a cruzar oceanos intencionalmente, seu projeto já era internacional em 1918. 

Um marco moderno do Dadaísmo - talvez tão a frente do seu tempo que apenas hoje começamos a compreender a proposta - é o da pluralidade de plataformas. O grupo apresentava seu trabalho através da poesia, da fotografia, colagem, escultura e pintura, sempre trazendo um olhar de escárnio em relação às atitudes nacionalistas e materialistas. Veio deles também o conceito de apresentar objetos do uso cotidiano como obras de arte, os próprios artistas exercendo sobre elas muito pouca influência plástica. Os Dada, que eram contra até a própria organização por não acreditarem em organizações, se diziamanti-Dada. Quem pretende compreender e conjecturar os rumos do século XXI deve ajustar as lentes 100 anos para o passado e, por esse motivo, trata-se de uma exposição imperdível. 

Dadaglobe Reconstructed - MoMa, NYC

De 12 de junho à 18 de setembro de 2016

 

Man Ray

Man Ray

Posted on May 5, 2016 and filed under Artes .

Cotton Project resgata os anos 90 no aniversário de 21 anos da SPFW

Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

Rafael Varandas

Quem gosta de moda e viveu os anos 90 encontrou sua turma no desfile da Cotton Project. 

A marca de Rafael Varandas trabalha com peças básicas e tecidos simples e, ainda assim, poderia o ser o figurino de um video clipe do Pet Shop Boys. 

A coleção apresenta duas gangues de tribos rivais de surfe, uma mais light, que abre o desfile com tons de nude, mostrada, camelos e azuis, e uma mais rebelde - trazendo muitos looks com preto. Um dos destaques foram os maiôs, feitos em parecia com a marca de beachwear Haight. Esta, na verdade, foi a única peça feminina apresentada na passarela. A marca, que pode ser considerada gender fluid mas explica pensar em formas masculinas na hora de criar suas roupas, trouxe modelos femininas vestindo as peças dos meninos. 

Há alguns meses, Rafael declarou seu receio em transportar a marca, essencialmente focada numa moda cotidiana, para a SPFW. Para solucionar o desafio, ele disse pensar em sua apresentação como um filme e, a partir daí, contar sua história. Percebemos que o objetivo foi alcançado quando este filme poderia ter sido dirigido por Kevin Smith. 

Posted on April 30, 2016 .

Rock and Roll no sertão: o cangaço de Helo Rocha no SPFW

Entrevista: Letícia Cazarré / Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

Qual o resultado da fusão do cangaço com o rock? A busca dessa resposta foi a grande inspiração de Helo Rocha para a coleção apresentada na noite desta quinta-feira, no SPFW. O tema, que reforça a marca regional que a estilista costuma trazer para as suas passarelas, ganhou elementos desafiadores com os piercings e body chains desenvolvidos em parceria com a designer de jóias Claudia Arbex. 

“Claudia me procurou e depois de uma primeira conversa, a parceria se desenrolou naturalmente. O destaque são os body chains, que podem ser usados por cima ou por baixo da roupa. Acredito que é uma tendência que tem muitas chances de emplacar - eu usaria, e pretendo usar.” 

Helo, tendo em mãos uma marca pequena, pode se dar ao luxo de trabalhar num esquema similar ao da alta costura, desenvolvendo sob encomenda vestidos recém saídos do desfile. O tempo de espera é de algumas semanas. Assim, as tão discutidas mudanças de calendário não vão afetar tanto seu processo de produção.

Backstage

Posted on April 29, 2016 .

Gloria Coelho aposta no futuro e traz para o SPFW uma coleção para as mulheres mentais.

Entrevista: Letícia Cazarré / Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

Gloria Coelho, nome por trás de uma das marcas mais longevas do SPFW, diz que adora ser rebelde. Atrás da voz suave, não se deixe enganar, existe um olhar preciso, pensado e planejado a respeito da moda – um olhar que permeia todas as escolhas de suas coleções.

A estilista, que enxerga a chegada do futuro em todos os lugares, bancou a escolha de usar tecidos tecnológicos como base de seu trabalho, ainda que o alto custo da modernidade seja responsável por encarecer o seu produto.
 
“O tecido dos nossos maiôs, por exemplo, é duplo e deixa a mulher sem uma gordura – aperta para caramba. O material das nossas calças reduz a celulite e diminui a silhueta em 3%. As roupas que vão por baixo das nossas peças também deixam a pessoa mais durinha.”
 
A própria mulher imaginada por Glória para vestir a coleção é um vislumbre do futuro, um perfil que já existe no mundo mas que ainda é pouco conhecido no Brasil.
 
“É uma menina que já acontece no mundo. Ela é ligada à moda, interessada em design, é uma menina mental – ela não pensa só com o sexo. Ela pensa em arte, nos prazeres da vida.”
 
O desfile, cujo planejamento a estilista confessa adorar, trouxe em sua cartela de cores o vermelho, o preto, o off white e o azul misturados com o telha e o leão. O objetivo do uso dos tons vívidos foi fazer uma aproximação com a estética mais comercial.
 
Embora uma pegada sessentista esteja presente, ela admite que em 2016 é necessário incluir os símbolos do momento.
 
“Mesmo que você use algo 60, vai ter que incluir elementos das novas tribos que chegaram. Eu, por exemplo, sou totalmente 60. Gosto dos Beatles e dos Rolling Stones.”
 
As mudanças no calendário da moda no Brasil também não são suficientes para tirar a serenidade de sua voz. Glória acredita que as transformações serão graduais e que, com a velocidade que o mundo está se transformando, ninguém tem tempo de ficar parado.
 
“Este formato ainda não está feito por ninguém porque ainda não se sabe como fazer, não sou só eu. Estamos vivendo um mundo novo. Somos conectados com tudo que acontece e tudo acontece na internet. Até namorado já se arranja por internet.”

Backstage

Posted on April 28, 2016 .

Alexandre Herchcovitch chega ao futuro resgatando o passado na SPFW.

Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

Um fila A repleta de veteranos da moda brasileira do calibre de Tufi Duek, Marcello Sommer e Luciana Curtis. Uma coleção com ares vintage, que reciclou materiais como sarjas de algodão, veludos e lãs risca de giz e os misturou com sapatos T-Strap, a cara dos anos 30. No momento em que o SPFW e quase todos os criadores olharam para o futuro, Alexandre Herchcovitch buscou seu renascimento no passado. 

Foi o primeiro desfile da À La Garçone, marca que o estilista criou logo após ter saído da direção criativa da Alexandre Herchcovitch, que ficou para trás na ciranda dos grupos financeiros. A proposta é a de criar o novo fazendo uso do antigo e este objetivo foi cumprido com perfeição. A alfaiataria que marcou toda a sua trajetória continuou presente junto com o couro, o xadrez e o neoprene, aplicado em cima de peças de moletom. O clima da coleção lembrou uma visita ao armário dos avós, exceto pelo fato de que um vintage tão atual só pode existir no fabuloso mundo de AH.

Backstage:

Posted on April 28, 2016 .

Criatividade e pesquisa: Lenny leva o Japão para o SPFW

Entrevista: Leticia Cazarré / Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

Manter a criatividade ao longo do tempo não é exatamente um desafio para Lenny Niemeyer que, ano após ano, é forçada a se desapegar dos frutos de quatro meses de trabalho e reiniciar o processo do zero.

“Esse momento é difícil, criar um novo tema. A única coisa que aprendi hoje, com o tempo, é que este tema pode ser qualquer coisa, desde que mergulhemos fundo na pesquisa.”

Segundo ela, a criatividade vem do trabalho de pesquisar e ter a preocupação de contar, em apenas 18 minutos, uma história do começo ao fim. Para chegar até esta coleção, Lenny imaginou icônicas casas japonesas e as misturou com referências que conheceu nos livros. Assim, ela chegou à desconstrução com as cores lisas e terminou com o nude, representando as mulheres de Shibuya.

Acreditando que a moda é um tema global, a estilista diz já ter trabalhado com temas tão diversos quanto a luz e a botânica.

“É importante pesquisar, já que fazemos uma moda muito brasileira, independente do tema escolhido. Como você traduz esse tema para o Brasil?”

Sobre as mudanças no calendário da moda, Lenny acredita que o modelo do “see now, buy now” seja particularmente benéfico para as marcas maiores, que não podem mais esperar meses para mandar seu produto para as lojas, sob o risco de serem copiadas pelo fast fashion.

“Temos que nos preparar mas a gente vai se adaptando.” 

Backstage:

Posted on April 27, 2016 .

Reinaldo Lourenço e 'CAUSE MAGAZINE juntos no SPFW

Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

A pop art e a estética dos anos 80 deram o tom do desfile de Reinaldo Lourenço, um veterano do SPFW. Em meio ao já tradicional trabalho com as listras, o preto, o branco, o off white e tons de ouro, laranjas, vermelhos e verdes predominaram na coleção.

O estilista recebeu os convidados fora da Bienal, no prédio da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) e misturou suas já tradicionais referências do guarda roupa masculino com tecidos fluidos e muito grafismo. Reinaldo, que se define como um observador nato, aceita como seu desafio e inspiração a missão de traduzir em coleções tudo aquilo que acha belo.

Desta forma, é um orgulho para ‘CAUSE Magazine fazer parte deste momento – os convidados da primeira fila deixaram a sala de desfile com a segunda edição da revista nas mãos.  Sinal de que trabalhamos alinhados no objetivo de desafiar os padrões e criar o novo, sem perder as referências e conexões com as raízes da moda. 

Backstage:

Posted on April 27, 2016 .

Vitorino Campos leva sua coleção para a estratosfera no SPFW.

Entrevista: Leticia Cazarré / Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

Vitorino Campos poderia estar próximo da exaustão mental, criando quatro coleções por ano, para sua marca homônima e para a Animale. No entanto, sua cabeça não está aqui entre nós, mas solta em meio às estrelas. O desfile que o estilista acabou de apresentar no SPFW trouxe como tema “Um salto para a estratosfera” - inspirado na obra “Salto no Vazio” do fotógrafo francês Yves Klein. A coleção foi construída para mimetizar todo o processo de atravessar o cosmos, desde o momento de saída da atmosfera - retratado nos primeiros looks - até as lembranças dessa viagem, fechando a coleção. 

Os tecidos foram pensados para provocar sensações. O veludo, por exemplo, apareceu no papel da pele viva, capaz de sentir a adrenalina deste salto. Ainda segundo Vitorino, a liberação cósmica que o inspirou não é necessariamente física mas também pode representar um salto de consciência. 

A modernidade, é fato, já chegou em seu processo criativo. O estilista admite não ter tido dificuldades com o novo calendário da moda e nem mesmo com a liberdade de utilização de outras plataformas pois nunca esteve constrito a tais conceitos. As calças de sua coleção, por exemplo, não obedecem estruturas de tamanho nem de gênero. Trazendo a cintura livre, fechada por uma presilha, ela serve a todos e pode ser usada ao gosto do freguês. Vitorino Campos nos lembrou que, uma vez livres, somos todos iguais.

Posted on April 27, 2016 .

Aqui e agora - Riachuelo e Karl Lagerfeld fazem a pré venda de sua coleção cápsula na SPFW.

Texto: Roberta Graham / Fotos: Vitor Vieira

Karl Lagerfeld, o todo poderoso estilista por trás de gigantes do luxo como a Chanel e a Fendi, uniu-se à Riachuelo numa coleção especial que foi apresentada ontem no SPFW. A comoção em torno do desfile tomou proporções épicas - dificilmente encontramos uma porta tão tumultuada - onde apaixonados pela moda disputavam um convite de última hora. 

O frenesi tinha razão de ser. Seguindo o conceito do “see now, buy now” que permeia a moda atual e é a grande novidade proposta pelo evento para as próximas temporadas, a marca instalou uma pop up store em sua sala de desfile, logo após a apresentação. Ali, convidados puderam comprar com algumas horas de antecedência e muito mais privacidade, as peças que chegam hoje aos 140 pontos de venda da Riachuelo no país.

Posted on April 27, 2016 .